Por Marcelle Souza
Foto Danilo Verpa
Tião Rocha
descobriu há 30 anos que era possível fazer educação debaixo do pé de manga, em
roda, sem currículo fixo, sala de aula e hierarquia.
Para ele, o
segredo é pensar a educação como algo plural, que leva em conta “os saberes, os
fazeres e os quereres” de todas as pessoas envolvidas no processo. Uma educação
que não exclua nem selecione, mas que respeite o tempo de aprendizado de cada
um.
“Infelizmente a
escola não é uma coisa prazerosa. Esse é o grande desafio. A escola deveria se
assemelhar muito mais a um parque de diversões, um lugar prazeroso. A escola
hoje se parece muito mais com uma fábrica, que tem sino para entrar, sino para
sair, a cada 50 minutos muda a matéria, tem uma hierarquização danada, aí deixa
de ser fábrica e vira uma cadeira, um quartel, e às vezes chega ao ponto de
parecer um hospício”, afirma.
Rocha é
fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, organização
não-governamental que atua nas áreas de educação popular e desenvolvimento
comunitário sustentável. Ele participa na próxima quinta-feira (06/11/14) de um dos
debates do Wise (World Innovation Summit for Education), um dos principais
eventos internacionais de educação, realizado nesta semana em Doha, no Catar.
Boa educação
exige bons educadores
Ele defende que
a boa educação só é possível com bons educadores –aqueles que não se posicionam
como detentores da toda a sabedoria e que são capazes de compreender que todo
mundo tem algo a ensinar.
“O bom educador
é aquele que se propõe a ser um aprendiz, tem que aprender o outro, que é
perceber a potencialidade do outro e dar as oportunidades para crescer”,
afirma.
Na sua opinião,
o bom educador “não fica citando autores, não é um repetidor de ideias”, mas é
aquele que constrói a sua própria pedagogia. “A educação só existe no plural,
tem que ter no mínimo duas pessoas (o eu e o outro). Se o professor e o aluno
são pessoas diferentes, a relação entre eles tem que ser de iguais. Ou seja,
não tem o que sabe mais ou o que sabe menos, não existe isso, são experiências
distintas, pessoas distintas”.
Isso só é
possível, afirma o educador, quando cada um se sente acolhido dentro do
processo educativo. Para pensar uma educação onde todos são ouvidos e ajudam a
construir os saberes, ele criou a pedagogia da roda. Ela surgiu quando
ele juntou pessoas debaixo de um pé de manga, e percebeu que ali não
havia hierarquia e que em círculo todas as pessoas conseguiam se olhar nos
olhos.
A partir daí, novas
ferramentas foram construídas, como o cafuné pedagógico. “É uma coisa simples:
só dá cafuné para o outro quem aprendeu a ter cafuné na vida. É criar
acolhimento para aqueles que ainda não tiveram isso. Todos nós precisamos de
colo”.
E justifica a
adoção do método: “Quanto mais produzir afetos, generosidade, mais as pessoas
vêm. Eu não conheço nenhuma criança que possa ter aprendido e se desenvolvido
plenamente na base do castigo. Agora, eu conheço centenas de milhares que
aprenderam e cresceram cidadãos plenos à base do afeto”, afirma.
Quebrar as paredes
Mas o que seria essa escola do futuro? Para Rocha, uma escola bem diferente da
que temos hoje. “Se a gente não mudar o jeito de ensinar, não adianta. Não é
questão de verba, é questão de mudar efetivamente, romper, quebrar com essa
grade curricular, quebrar as paredes que estão dentro escola”, afirma.
“Hoje as
crianças têm um currículo que metade das informações são inúteis. Ou então ele
aprende um monte de gramática, mas não aprende a gostar de ler. O aluno
fingindo que aprendeu, o professor finge que ensinou, a escola finge que
existe, o Estado finge que paga e nós estamos pensando que essa educação forma.
Ela finge que forma”, diz.
.............
Tião Rocha é
antropólogo “por formação acadêmica”, educador popular “por opção política” e
folclorista “por necessidade”. Idealizador do CPCD (Centro Popular de Cultura eDesenvolvimento).
Fonte: UOL Educação
Reproduzido de CPCD
. Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento . BHZ
07 nov 2014
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Comentários de
Paqonawta:
A escola como
um Porto e professores, crianças e comunidade escolar sempre em rumo ao
des-conhecido, buscando e se entregando com alegria, amor, paixão, inquietação,
curiosidade, imaginação, criatividade, solidariedade a um outro espaço/tempo de
descobertas... Eita nós!
Uma escola
imaginada pelas crianças e criada por elas, com elas, para elas, cafuneante,
descobrincante...
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